sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Há 2 anos e meio

Ontem tava bundando em casa e passeei pelos canais do ppv para ver se tinha algum jogo interessante; em um dos canais tava passando um compacto de Corinthians x São Paulo no primeiro turno do BR 11, aquele fatídico 5 x 0 que foi bem na primorosa arrancada de 9 vitórias – o que, é sabido, foi o que nos garantiu o campeonato. Por conta das discussões táticas recentes, fiquei assistindo – seria legal lembrar in loco de como o time jogava, com esse esquema 4231, e que deu tão certo lá atrás e tem dado tão errado agora. Alguns fatores ficaram evidentes:

- questão física: era impressionante o padrão físico do time. Fora da liberta cedo, só disputou paulista e entrou voando no Brasileirão. Em alguns momentos parecia que o time se posicionava mais à frente, pois Willian e JH, os abertos, guardavam menos posição e apareciam mais no meio e dentro da área. Só que 3 minutos depois você via o JH tirando uma bola na lateral dentro da nossa área, o que mostra o vigor físico que o time tinha para cumprir esse padrão. Mesmo Danilo, 2 anos mais novo, era fisicamente outro – visivelmente com mais velocidade e maior imposição física naquelas protegidas de bola que ele costuma dar.

- Jorge Henrique: não é e nunca foi craque. Mas talvez não tenha havido no histórico recente do futebol brasileiro jogador cujas características permitam que desempenhe tão bem o papel de marcador de gandula do qual Tite tanto gosta. Veja bem: desde 2011, nos vários momentos em que Tite usou o 4231, os abertos eram sempre JH e mais um – sendo que esse outro um nunca foi unanimidade. Tite tentou Dentinho, depois Willian, Sheik, mas unanimidade mesmo nessa função só JH. Interessante  também notar que o declínio físico de Liedson possibilitou, na reta final da Liberta 12, Tite mudar o esquema e resolver o problema de Sheik – ele nunca funcionou do mesmo jeito que JH, mas no novo esquema ele flutuava mais à frente e não precisava acompanhar o lateral até o fim, enquanto Danilo e Alex povoavam mais o meio de campo e Castan dava uma cobertura monstra pro Fabio Santos. Tite achou que podia dispensar JH (o que acho que fez certo), só não notou que ele era peça fundamental se ele pretendia manter o esquema tático.

- Liedson: enquanto tinha joelhos, Liedson jogava umas 6x mais do que Guerrero joga. Não falo só do papel do centroavante (alguém lembra o terceiro gol desse jogo, uma bola que o Danilo enfia da direita, Liedson com a matada se livra do zagueiro e com a outra perna fuzila o Rogério?), mas sim na construção das jogadas. Nesse jogo, só nos 15 min do primeiro tempo, Liedson resolveu umas 4 jogadas de primeira que davam uma dinâmica impressionante ao time. Essa recebida com um toque para alguém que vem se aproximando dava tempo para o time se reposicionar em bloco – Willian e JH vinham chegando nas pontas, Danilo e Paulinho no meio. Guerrero não sabe jogar fora da área; das bolas que recebe, perde uns 70%, e quase nunca resolve de primeira. O jogo fica parado, mascado. Entre a saída de Liedson do time titular e a chegada de Guerrero tivemos uns 4 ou 5 meses (reta final da Liberta). Guerrero chegou e Tite tentou reimplementar o 4231. 15 meses depois ele não percebeu que as características do novo centroavante não são iguais às do antigo.
- Paulinho: ok, a imprensa esportiva quis nos fazer acreditar que a saída de Paulinho tem mais importância no declínio do time do que tem de fato. Mas a falta de um jogador que se apresente com as suas características é notável. Com o vigor físico e chegada de qualidade à frente, Paulinho compunha atrás com Ralf e, quando o time ia a frente, chegava a compor quase uma dupla de meias com Danilo. Se JH e Willian abriam a defesa adversária, sobrava espaço para Paulinho se infiltrar pelo meio. Acho que Guilherme tem potencial para cumprir essa função, mas além de menos tímido, precisa ter liberdade tática para arriscar. Se for obrigado a sempre se preocupar em compor a linha de trás com Ralf antes de qualquer outra preocupação, fica difícil. A outra saída é tirar Edenilson da lateral e jogá-lo pro meio – com laterais tão limitados com o nosso, parece saudável compor uma defesa que sai menos e liberar o segundo volante.

O resumo é esse: Tite insiste em tentar reeditar o que deu muito certo há 2 anos e meio, mas com um contexto e características de jogadores diferentes.  

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