Ao longo dos últimos 3 dias, pensei, conversei com
corinthianos, li blogs e sites de notícias para chegar a uma conclusão se a
melhor solução seria trocar de técnico. E a questão recorrente, em especial para
os que não acham que a troca é uma boa, é como seria possível culpar um técnico
que foi táo bem sucedido. E fiquei pensando no que mudou de lá para cá.
O esquema Titeano nos títulos conquistados era uma fortaleza
defensiva; no plano ofensivo, os poucos gols feitos (sempre foram poucos)
saiam, na sua maioria, do elemento surpresa (Paulinho / bolas paradas ou chutes
de longe de Alex etc) ou de bolas roubadas na marcação pressão do adversário.
Nunca foi um esquema armado para produzir ofensivamente, mas produzia
eventualmente pela conjuntura. Ok, e porque o que deu certo antes não tem dado
há mais de ano? Tenho algumas hipóteses.
- O esquema depende de uma dedicação física impressionante
dos jogadores, o que, portanto, depende duma condição física excelente.
Terminamos o paulista de 11 com a torcida desanimada e pedindo a cabeça de
Tite. 3 meses depois éramos o time a ser batido com 10 vitórias em 9 rodadas do
brasileiro. Nesse ano tivemos a condição peculiar de ser eliminado na
pré-libertadores e, por isso, ter disputado no primeiro semestre só o Paulista.
Chegamos no começo do brasileiro voando e isso foi boa parte do que nos
garantiu o brasileiro (nas outras vinte e poucas rodadas disputamos ponto a
ponto com um Vasco mais veterano, com menos opções no elenco e supostamente
menos motivado por já ser campeão da Copa BR). Em 2012, fomos eliminados nas
quartas do paulista e ficamos focados na liberta até o fim. Para jogar contra o
Chelsea, descansamos 6 meses. Nos 3 melhores momentos da Era Tite, foi possível
ter a condição física ideal para dedicar-se ao esquema. Esse ano, chegando ao
fim da Copa BR, jogaremos 80 jogos, espremidos pela janela da Copa das
Confederações. Ano que vem a coisa se repete pela Copa do Mundo. Quando a
condição física não é acima dos demais, nosso desempenho cai muito. E aí
entramos numa outra questão que é...
- O esquema depende de jogadores 100% motivados e
concentrados. Desde os primeiros momentos dessa “Era Tite vencedora” já era
comum notarmos que o time jogava bem um tempo de dois: ou jogava bem o
primeiro, fazia um gol e sofríamos no segundo, ou o time dormia no primeiro,
tomava um esporro no intervalo e vinha voando no segundo. Tirando mata-matas,
era muito difícil o time fazer um ótimo jogo o tempo todo, e isso muito porque
é muito difícil, tirando “o jogo da vida”(que nenhum time é capaz de fazer todo
jogo), os jogadores manterem 100% da concentração. Só que, junto com o outro
fator, um time cada vez mais ganhador e cada vez mais veterano vai ter
dificuldade de manter essa concentração. Todos os comentaristas vem falando a
respeito, e parte da torcida tem visto o time “preguiçoso, acomodado”. Só acho
que o nível de concentração e dedicação se nivelou ao resto, e como o esquema
dependia muito disso também, o desempenho despencou. Ou ninguém estranhou Tite
explicar o mau desempenho do time porque tinha se concentrado para a Recopa,
uma incrível competição de 2 jogos??
- O esquema é voltado para mata-matas. Os dois primeiros
fatores já ajudam a explicar – é muito mais fácil você correr e jogar tudo num
mata-mata do que num dos 38 jogos de pontos corridos – mas a própria filosofia
do time / técnico é assim: empatar fora, ganhar (nem que seja por meio a zero)
em casa. Além disso, pela motivação e dedicação, o time é capaz de fazer um
baita jogo contra um grande time e sofrer para cacete contra um candidato a
rebaixamento. Para pontos corridos, onde 3 pontos são 3 pontos, essa combinação
é ruim de doer. “Ah, mas ganhamos o BR 11...”. Sim, as 9 vitórias do começo
foram boa parte da explicação, depois entramos num gangorra que quase nos
custou o título.
- Quando você o time a ser batido, os outros times estudam
você. Ou por outro ângulo: não aprendemos a ser protagonistas. Até a final da
Libertadores 12, ninguém diria “o Corinthians é favorito”. O jogo contra o
Chelsea também foi na linha de “sul americano franco atirador”. Em todas as
outras situações de 1 ano para cá éramos o “favorito”, o “campeão” e os times
se preparavam de forma diferente para jogar contra o Corinthians. Só que já faz
um ano e não conseguiu-se lidar com isso.
Dado todas essas condições, a questão que fica: Tite
conseguirá, daqui para frente, lidar com esses fatores, mudar o time, a
disposição tática, e fazer o time vencedor novamente? Tenho dúvidas. Talvez sua
última chance de mostrar isso seja a Copa do Brasil. Mas ainda assim ficará a questão:
sempre dependeremos do time voando, 100% concentrado num jogo específico para
esperar um bom desempenho? Para os planos de protagonismo que a diretoria
parece ter, me parece pouco. Precisamos duma renovação gradual do time,
precisamos ter variações táticas para situações diferentes de jogo, precisamos
testar aos poucos apostas e jogadores da base. Tite é o nome para fazer isso
nos próximos 3 anos? Tenho sérias dúvidas.
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